
Originais da Bíblia
“No entanto, a voz do céu se espalha pelo mundo inteiro, e as suas palavras alcançam a terra toda” Salmo 19.4.
Com o passar do tempo, esses relatos sagrados foram reunidos em três grupos de livros, assim conhecidos, em hebraico:
– Torah (Lei): reúne os primeiros cinco livros da Bíblia, o assim chamado Pentateuco.
– Ketubim (Escritos): reúne os demais livros, entre os quais Salmos, Provérbios, Jó, Eclesiastes, e também Esdras e Neemias, Daniel, e os livros de Crônicas, que aparecem em última posição no cânone hebraico.
As letras iniciais dessas divisões formam o acrônimo TaNaK, que é o nome que os judeus dão à Bíblia.

Todas as traduções da Bíblia podem ser feitas, como convém, a partir de edições dos textos nas línguas originais. Para a tradução do Antigo Testamento, as Sociedades Bíblicas e os tradutores em geral utilizam a Biblia Hebraica Stuttgartensia, publicada, em nome das Sociedades Bíblicas Unidas, pela Sociedade Bíblica Alemã, e também impressa no Brasil. A edição do texto foi feita entre 1967 e 1977.
A Biblia Hebraica Stuttgartensia reproduz na íntegra um único manuscrito hebraico, o Códice de Leningrado ou Codex Leningradensis, que foi produzido em 1008 d. C. Trata-se de uma edição diplomática, ou seja, uma edição que reproduz sem maiores retoques o texto tal qual se encontra no Códice de Leningrado. Este texto é chamado, também, de texto massorético.
Mas este não é necessariamente o texto original da Bíblia. Há momentos em que o texto massorético, reproduzido no Códice de
Leningrado, traz lacunas (como em Gn 4.8, por exemplo, onde não aparece a frase “Vamos ao campo”) e aparentes erros (como em Sl 22.16, onde o texto massorético diz “como um leão as minhas mãos e os meus pés” e as traduções dizem algo como “traspassaram-me as mãos e os pés).
Assim, os tradutores levam em conta o que aparece no aparato crítico ao pé da página dessa edição, particularmente os dados derivados das versões ou traduções antigas (Septuaginta, Targum e Vulgata) e dos manuscritos do mar Morto.Tanto as versões antigas como os manuscritos do mar Morto (ou documentos de Qumran) são muito mais antigos do que o texto massorético que aparece no Códice de Leningrado.
Os livros do Novo Testamento foram escritos na segunda metade do primeiro século da era cristã, ou seja, no período que vai de mais ou menos 50 a 100 d. C. Tudo indica que os primeiros livros escritos foram as cartas do apóstolo Paulo e o último o de Apocalipse.
Essas cartas e outros escritos eram recebidos e preservados com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem circulados entre as igrejas (leia Cl 4.16), passando então a ser copiados e difundidos nas igrejas cristãs dos primeiros séculos.
A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos sobre a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos. Também estes foram copiados e distribuídos à medida em que a igreja crescia.
Os autógrafos ou documentos originais do Novo Testamento não foram preservados. Documentos com porções maiores de texto, que chegaram até nós, datam do segundo e terceiro séculos. Este é um intervalo relativamente breve entre a data de composição dos livros e as cópias mais antigas, especialmente numa comparação com outros escritos daquela época.
O mais antigo fragmento do Novo Testamento grego hoje conhecido é um pedacinho de papiro escrito no início do segundo século d. C. Trata-se do Papiro 52 (ou P52) e nele estão contidas algumas palavras de João 18.31-33, 37-38. Em época recente, foram descobertos muitos outros papiros com texto bíblico, tanto assim que hoje são conhecidos 125 papiros do Novo Testamento (embora a maioria contenha apenas um pequeno trecho do Novo Testamento).
Para preparar uma edição do Novo Testamento Grego, os eruditos dispõem, em tese, de mais de cinco mil manuscritos gregos (muitos deles fragmentários). Além disso, levam em conta também o testemunho de traduções antigas (como a latina, siríaca, copta, entre outras) e a transcrição de textos do Novo Testamento nos escritos de teólogos da igreja antiga, particularmente aqueles que escreveram em grego. Disso resulta uma edição do Novo Testamento grego que é chamada de eclética, ou seja, um texto que resulta do estudo e da combinação de um grande número de manuscritos.
Na prática isto significa que o texto reproduzido em O Novo Testamento Grego (diferentemente do que ocorre na Bíblia Hebraica) não se encontra em um único manuscrito, pois resulta da comparação e combinação (em tese) do que se encontra em todos os manuscritos que
chegaram até nós.
A edição do texto grego do Novo Testamento mais utilizada por tradutores em todo o mundo é O Novo Testamento Grego, uma publicação das Sociedades Bíblicas Unidas que está em sua quarta edição revisada. Uma edição em “roupagem” portuguesa foi impressa no Brasil, em 2009. Juntamente com a Biblia Hebraica Stuttgartensia, esta é a melhor edição dos textos originais de que se dispõe hoje em dia.
É bem verdade que os documentos originais da Bíblia, chamados de autógrafos, não foram preservados. Tudo que se tem são cópias, antigas, com certeza, mas não os autógrafos. No entanto, numa comparação com outros textos do Mundo Antigo, a Bíblia é um livro muito bem preservado, em grande número de cópias antigas. Isto se aplica de modo especial ao Novo Testamento, mas vale também para o Antigo Testamento, especialmente a partir da descoberta dos rolos do mar Morto.

O uso da expressão “melhores e mais antigos manuscritos”, no caso do Novo Testamento