
João Ferreira de Almeida
"Tu és a minha rocha e a minha fortaleza; guia-me e orienta-me como prometeste"(Salmo 31.3)
A grande maioria dos evangélicos do Brasil associa o nome de João Ferreira de Almeida às Escrituras Sagradas. Afinal, é dele a tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível, no Brasil, em duas edições, a Revista e Corrigida e a Revista e Atualizada, a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País.
Se a tradução de Almeida é amplamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do próprio Almeida. Pouco, ou quase nada, se tem falado e escrito a respeito dele. Almeida nasceu por volta de 1628, em Torre de Tavares, Portugal, e morreu em 1691, na cidade de Batávia (hoje Jacarta, na ilha de Java, Indonésia).
O que se conhece da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas (calvinistas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.

Quando já se encontrava no Sudeste da Ásia, mais especificamente em Málaca (na Malásia), em 1644, quando tinha 16 anos de idade, Almeida começou a traduzir para o português uma parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento. A tradução, feita do espanhol, foi terminada em 1645, mas nunca foi publicada. Cabe acrescentar que, no tempo de Almeida, o português era a língua de contato e comércio na rota para o Oriente.
Almeida ficou em Málaca até 1651, quando se transferiu para Batávia, uma pequena povoação na ilha de Java. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, Almeida foi indicado para o Presbitério do Ceilão. Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor.
Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de “superstições pa-
pistas”, que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657).
Foi também durante sua permanência no Ceilão que, ao que tudo indica, Almeida conheceu a mulher com a qual viria a se casar. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lemos). Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.

Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais: mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso. Mas o presbitério conseguiu fazer com que a impressão fosse interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país.
Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. A impressão foi feita em Amsterdã, na Holanda, na tipografia da viúva J. V. Zomeren. O título era este: “O Novo Testamento Isto he o Novo Concerto de Nosso Fiel Senhor e Redemptor Iesu Christo traduzido na Lingua Portuguesa”. Um ano depois, essa edição do Novo Testamento chegou a Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão.
Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (alguns exemplares dessa edição corrigida foram preservados). Isto se deu em 1683. Logo em seguida começou o trabalho de revisão e correção do Novo Testamento, que durou dez longos anos. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda edição foi impressa, na própria Batávia, onde também foi distribuída. A terceira edição viria a ser publicada em 1712.
