
Álvaro Viotti Vieira - In Memoriam
ÁLVARO VIOTTI VIEIRA
Escritor nascido em Caldas/MG, aos 17.07.1916 e filho de Álvaro Vieira e Silva e de Aristotelina Viotti e Silva. Numa linda carreira como escritor, iniciada aos 75 anos de idade, em quase 20 anos deixou uma obra de 8 livros, tendo sido o primeiro “Dimas, o bom ladrão” que tive o prazer de ter lido há cerca de 10 anos. Era membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e titular da cadeira n° 27 da Academia de Letras Sorocabana. Foi também em sua vida corretor de imóveis e de seguros, representante comercial e escrivão, mas o que mais lhe orgulhava foi ter sido alfaiate, como seu pai. Álvaro tornou-se membro efetivo da Academia Poços Caldense de Letras em maio de 1994. Em 2006, tornou-se Cidadão Sorocabano. Era membro do Clube dos Escritores de Piracicaba e sócio honorário da Academia Sorocabana de Letras, desde 1998. Recebeu a comenda do Sesquicentenário da Revolução Liberal Sorocabana de 1842 e foi homenageado, se tornando patrono da Biblioteca do Colégio Adventista de Sorocaba, em 26 de outubro de 2000. Em 2006, foi biografado por Rui Albuquerque, no livro Exemplo - A vida do alfaiate e escritor Álvaro Viotti Vieira. Faleceu aos 20.06.2011, prestes a completar 95 anos de uma vida exemplar. Era viúvo há poucos anos de Maria Fonseca Vieira e deixou-nos uma linda família, representada pelos filhos Eduardo, Oscar e Maria Luiza.
HOMENAGEM
(IN MEMORIAM)
Apesar da nossa diferença de idade, há cerca de 10 anos considerava o Sr. Álvaro, um de meus melhores amigos. Pessoa que considero um de meus mestres e pessoa essencial para que eu continuasse escrevendo e valorizando a área literária.
Creio ter lido todos os seus livros, e trata-se daquelas histórias empolgantes de se ler, com narrativas agradáveis e envolventes, que faz o leitor que inicia sua obra, não querer largá-la até concluir sua leitura.
Pessoa maravilhosa que chegou aos 94 anos... Se em seus últimos quinze, dez anos, pôde ser tão importante para minha pessoa e quase todos os meus projetos de vida, imagine o que não pôde fazer em toda a sua vida e para a vida de incontáveis pessoas que tiveram o imenso prazer de conhecê-lo e com ele ter convivido.
Sempre fui amigo e admirador dele e por conseqüência, de toda a sua família. Aprendi, de certa forma, a ver o mundo com seus olhos, e a ver seus filhos como meus irmãos. Ele nos deixava sempre tão à vontade que nos sentíamos parte de sua família. Sua humildade e dignidade, fazia com que nos compreendesse por inteiro simplesmente olhando para nós. Fazia com que desvendasse os nossos sonhos com a experiência de sua vida e com seu bom coração. Tratava jovens como eu com a importância que se dá normalmente a pessoas mais experientes e notáveis.
Certa vez, num momento vazio de minha vida, com poucos gestos e palavras ajudou-me decisivamente a novamente animar-se. O fato de ser uma pessoa muito próxima e escritor fez-me voltar aos meus antigos e já quase mortos desejos literários. O fato de ser amante dos livros, como eu - mais me firmou nesse propósito de vida, de cada dia mais valorizar Deus, a Educação e a Família.
Tivemos poucas, mas significativas conversas. Algumas vezes na igreja e em sua residência, onde tive o prazer de conhecer um pouco mais sobre sua maravilhosa vida e pessoa. Sou uma pessoa muito caseira, que apesar de valorizar muito os bons momentos e confraternizações, é um pouco avessa a aparecer em festas e eventos. No entanto, era impossível não estar presente em seus lançamentos de livros após cada freqüente convite que chegava em casa. Nunca me esquecerei de algumas dessas oportunidades, de quando tomou posse na Academia Sorocabana de Letras, de quando discursou no lançamento de alguns de seus livros e principalmente do lançamento de sua biografia – “Exemplo, a vida do Alfaiate e Escritor Álvaro Viotti Vieira”. Esse foi um momento bastante importante para mim, onde pude conhecer alguns personagens que sempre admirei e onde me emocionei com a forma como tudo aconteceu. Era como se meu pai, ou meu avô, estivessem ali recebendo a homenagem. De fato, era com essa naturalidade que ele nos tratava e queria nosso bem.
Ele foi quem mais me incentivou a desejar publicar meus projetos, divulgar poemas, escrever livros, etc. Sempre senti que ele me compreendia muito bem e que conseguia me avistar lá na frente, vivendo a vida que ele viveu e valorizando a vida como ele valorizava e conquistando as vitórias que conquistou. Lembro-me de tudo o que ele me disse - são lições que devo guardar para sempre - são ideais que espero fazer frutificar por toda essa nossa maravilhosa cidade.
Desde meus 13 anos desejava um dia ser membro da Academia de Letras. Sempre almejei ser escritor e me imaginava como ele: publicaria o primeiro livro e depois dele seguir-se-iam quantos a vida me permitisse, já que não há impedimentos para mais e mais escrever, pois idéias não faltam e sonhos são sem fim. Como um aluno de teatro se encontrando com um grande ator e dele ficar amigo, foi esta minha felicidade ao conhecer e aproveitar do convívio humilde e dedicado, deste grande homem que se foi e que ficará, agora, somente em nossa memória e corações.
Tenho prazer em tudo o que diz respeito a livros. Se pudesse, viveria de ler e escrever. Conheço boa parte da literatura brasileira e universal, poetas e escritores a quem considero meus mestres. O fato de escrever poemas referentes aos sentimentos do coração e problemas sociais aliado com o fato de ter lido mais de 1.000 livros em menos de 10 anos, me deram uma visão muito mais aguçada do mundo em que vivemos e me fez valorizar muito mais a vida, e pessoas e mestres como o já saudoso Sr. Álvaro. Por isso que sempre visualizei a CULTURA, EDUCAÇÃO E LEITURA, como instrumentos emancipatórios, essenciais e democráticos para o crescimento e desenvolvimento humano em sua essência. Por isso sempre tive bons sonhos, boas metas e sempre muitas pessoas boas ao meu redor, apesar de sempre ter sido "ninguém". Meu sonho é mostrar ao mundo o valor da Leitura - meu sonho é criar na mente de todos, o desejo de ler mais.
Em essência, penso que foram estes pensamentos que indiretamente também o Sr. Álvaro Viotti quis transmitir o tempo todo para mim. Infelizmente, aos 20.06.2011, descansou no Senhor, este grande homem e amigo. Vi-lhe e pude conversar com ele, de forma breve, por apenas duas vezes desde o início deste ano. Ele ainda estava muito animado e para me animar a continuar com meu sonho de publicar livros, chegou a colocar capa num projeto que lhe passei, tornando um simples projeto de um poeta e escritor amador em praticamente um livro. Tamanha a sua dedicação e amor por pessoas simples como eu, que veio até em casa mostrar o que fizera e ainda me agradecia pelo livro e por aquilo que escrevia... Então pediu que eu lhe visitasse e levasse novas poesias. Por circunstâncias da vida e a correria do dia a dia, não deu tempo de visitá-lo. Iria justamente numa quarta-feira da semana e ele faleceu na citada segunda-feira, dois dias antes. Quando pensava em como seria a visita, imaginei algo muito comovente e me preparava para aquilo. Fiquei em luto e arrependido por não tê-lo visto antes e demonstrado a ele toda a importância que ele teve para mim nos últimos anos e na continuidade de meus projetos pessoais. Mas estou certo que a melhor forma de honrá-lo agora será vivendo parte de seu sonho. Será continuar seu trabalho.
CARTA DE 13 DE NOVEMBRO DE 2005
Surpresa! Enorme, foi a minha, ao receber o prospecto do livro de poesias “Gritos do Mundo” de autoria do talentoso jovem Nelson Malzoni. Sabia-o estudante, e um amante das letras, o que se apercebe, num universo controvertido, em que a TV contribuiu para que parcela ponderável de nossa sociedade trocasse o hábito salutar da leitura, por uma tela de TV.
O que mais me admira em Nelson, é seu apego à leitura. Nosso país, com população estimada em cento e oitenta milhões, onde estatística idônea revela que apenas 3% de nossa gente têm o hábito de leitura, setor a mais, em que somos medíocres campeões. Nelson é um exemplo digno.
Essa irrisória porcentagem desestimula qualquer um que se aventure navegar contra as procelas encapeladas dos adversários da sublime arte da pena. Sempre digo: o escritor que depender da pena para viver, no Brasil morrerá de fome.
O que admiro em Nelson, é que sendo jovem, consegue além de seu trabalho para sobreviver, cursar Direito na FADI, exigindo-lhe afinco e muita dedicação, contudo, sobra-lhe tempo para ler dois livros por semana, o que sem dúvida, é um recorde absoluto. Nelson deveria concorrer ao Guinness Book, o Livro dos Recordes, por certo, venceria com brilhantismo.
Admiro também em Nelson, sua personalidade, sua maneira cortês, sua humildade e modéstia, resultante de uma vida parcimoniosa e íntegra, apanágio dos iluminados. Impulsionado por uma permanente pressa em vencer obstáculos, encontra tempo para seus amigos.
Sua comovente crônica sobre minha pessoa, em meus 88 anos de idade, ocorrido em 17.07.2004, que conservo, como uma relíquia; deixou-me, deveras, emocionado.
Nelson, o mesmo “gentleman” humilde, correto, nuança raramente encontrada na insopitável natureza humana... Salta aos olhos, a qualidade de uma mente privilegiada. Haja vista, este seu magnífico trabalho, e mil poesias que pretende trazer a lume.
Saúdo-o, ilustre confrade e irmão em Cristo. Parabéns! Que seu livro alcance sucesso, disto não tenho dúvida, e que sirva de estímulo à juventude de nossa Pátria!
Sorocaba, 13 de outubro de 2005.
Obrigado mestre, e amigo.
Sorocaba, 25 de junho de 2011.
Nelson Malzoni