AD FUTURAM MEMORIAM

 

 

No dia em que eu não mais pisar nesta terra...
Quero que toquem minha melhor música,
A mais alegre e vibrante, emocionante e terna,
E conheçam através dela todos os meus sentimentos...

No dia em que deixar este mundo para sempre...
Quero que continuem na luta, por todos os sonhos,
Pelos quais dei minha vida, diariamente,
Procurando a cura para as lágrimas dos olhos...

No dia em que me ausentar da eterna guerra...
Nem quero imaginar que desistam, mas alcancem a vitória,
Por qual tanto batalhei até o fim.
Que andei por esta terra, constantemente em busca desta glória...

No dia em que partirei para sempre...
Que não haja lágrima em olho algum, mas festa,
Porque afinal descansa a mente que tanto trabalhou nesta vida,
A procura de paz, de felicidade, do milagre, da utopia...
Lembrem-se de minhas palavras...
E guardem o que direi para a memória futura,
Em toda a curta vida, em todo o extenso mundo,
Não há nada que mereça tanta preocupação
Quanto aos sentimentos de nosso coração,
Quanto aos segredos d’alma, os sonhos,
Os princípios que trazemos no peito
E que nos levam à luta, em busca de nossa utopia,
Que é real e não está longe de cada um de nós,
Basta que saibamos abrir os olhos,
Basta que saibamos abrir os ouvidos,
Basta que saibamos entender o sentido da vida e do mundo,
Basta que saibamos viver a vida corretamente,
Não
a desperdiçando com trivialidades, ilusões, vãs paixões.
Não gastando-a em vis passatempos e maldades sem fim;
Para que possamos enfim, receber sem tristeza o golpe mortal,
Da afiada foice do destino, da cruel arma do tempo,
Da insustentável leveza da vida...

Saiba por um momento fechar e abrir os olhos
E ver tudo diferente!
Saiba que toda a complexidade da vida e do mundo
É na verdade algo tão simples!
Saiba que todos os nossos atos geram para nós
Uma eterna conseqüência...
E todas as palavras que saem de nossos lábios
Navegam eternamente na mente de todos os homens!
Para a memória futura, quero que aprendam por mim...
Que desperdicei muito do meu tempo em passatempos...
Que desperdicei muito da minha vida em futilidades...
Que desperdicei muito da minha felicidade,
Com tristezas que para mim próprio arranjei...
Que gastei as forças deste meu coração,
Em sonhos e ilusões que não levam a lugar algum...
Em metas e paixões irreais,
Que só podem se tornar possíveis em nossa mente...
Em angústias que não passavam de ilusões
E coisas à toa...

Para a memória futura eu espero,
Que algo do que eu disse, Seja por alguém guardado...
Que algo do que ensinei, Seja por alguém aprendido...
Que algo do que aconselhei, Seja por alguém seguido...
Que algum bom exemplo que dei,
Seja por alguém imitado...
E todo o resto, seja jogado aos ventos,
Rumo às direções designadas pelo tempo,
Eterno mantenedor da maldição de Adão...

Todo o resto seja apenas resto,
E nada mais importa, que a continuidade,
Desta eterna luta vã buscando a felicidade e a vida,
Enquanto nos vêm a tristeza e a morte!

Nelson Malzoni
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