
EPITÁFIO
Eu vivi por todo esse tempo
Por todos estes dias de alegria e aflição
Com contrição e um peso no coração
Por não ter dado o máximo de mim,
Por não ter feito o melhor,
E por chegar o fim...
Por chegar o fim que há muito sabia
Que logo chegaria,
E quando viesse, (pensava)
Pronto estaria!
Mas, ó, este dia
Passou-se em amargura,
Nada pude antes fazer que valesse
O tempo que perderam todos velando a sepultura.
A sepultura em que desço;
A lei natural que obedeço
O preço que ofereço
Pelo pouco que me foi dado
E pelo pouco que dei...
Aqueles alegres dias em que juntos brincamos
E conversamos, e planejamos e decidimos;
São bons momentos que meus ossos hão de guardar
Com a mais pura saudade até que eu vire pó.
Não hei de subir ao céu, não agora
E não hei de descer abaixo da terra.
Lutei pela justiça e pela paz
E morri na guerra.
Cada amigo, parente, mestres e irmãos,
Tenho trazido no coração até aqui,
Morri com seus sonhos, seus rostos, seu choro
E com suas imensas vontades de serem felizes.
Trago-os no coração até aqui...
Nada se perdeu... tudo guardei...
De tudo lembrei até o fim!
A palavra trocada, o olhar, o sentimento
Cada singelo e insignificante momento
Trago-os no pensamento até aqui...
Obrigado por tudo e perdão
Por tudo o que fiz e não fiz...
Por tudo o que disse, e não passou de palavras.
Por cada sonho, que foram apenas sonhos e nunca fatos concretos;
Por cada emoção, que só permaneceu em meu coração
Por cada desejo, que nunca foi concretizado
Por cada objetivo, nunca alcançado.
Ó vida, desculpai-me pela morte
Eu não fui forte o bastante para ter sempre alegria e sorte,
A morte apareceu sem que eu desse conta
E quando dei conta já não havia tempo;
Tudo foi tão rápido! A vida, o dia,
E este último momento de agonia...
Ó vós todos que deixei, (se existe alguém!)
Vou para que não mais se incomodeis comigo!
Se ainda quereis minha companhia, para conversar
Leias qualquer poesia, que nelas estou a falar.
Ó tristeza que acompanhou-me até o fim
Adeus, que não mais existirás sem mim!
Ó alegria que escondestes, que esteve sempre a fugir
Já que estou indo, podes agora vir!
Eu descanso em paz, neste corpo que jaz
Já não tenho alma, nem calma
Nem espírito, nem sorriso;
Apenas uma lágrima restou,
Em meus olhos já fechados
De tanta dor que neste mundo avistou...
Nelson Malzoni ®