LIBERTAS, QUAE SERA TAMEM

 

(Liberdade, ainda que tardia)

 

 

Não quero dizer por que fui ou não fui

O que fiz e o que deixei de fazer

O que falta e que quero.

A mão ajudadora é silenciosa ou inexistente,

Não cabe, pois, que eu grite meu ser ao mundo.

Hei de no silêncio alcançar sonho após sonho.

Sem comemorar com todos,

Pois muitas vezes sozinho caminho e sozinho luto.

Não sou orgulhoso nem egoísta.

Mas o mundo se fecha para mim.

Não havendo razão para eu abrir-se a ele.

Hei de consultar somente a Deus

A chuva, a lua e as estrelas.

Ninguém mais poderá me ouvir,

E não haverá muito que dizer.

 

O tempo se passou. E eu estranho.

Eu obsoleto diante das novas realidades,

Da vida e das pessoas.

Não me dou mais com o mundo,

O mundo não se dá mais comigo.

 

U’a mesmice extrema toma conta de tudo.

E hoje eu canto, sorrio e grito.

E amanhã tudo se repete.

E hoje eu me alimento, trabalho e me canso.

E amanhã tudo se repete.

E hoje é um dia intenso,

E amanhã tudo se repete.

E hoje repetem em cada hora,

Minutos de todos os segundos que já se foram.

E não há mais razão para comemorar isso,

Nem para sorrir.

Estou enjoado. Estou cansado.

Me cansei de brincar neste mundo de faz de conta.

 

Me cansei de aconselhar quem não se aconselha.

De ensinar quem não se ensina.

De tentar aprender de quem nada ensina.

De tentar sorrir para quem chora.

De tentar reclamar para quem nada pode ou quer fazer.

Estou mudo...

E agora cego...

E agora surdo...

E agora morto.

Voltando ao nada que fui por vinte e poucos anos perdidos na eternidade do mundo.

 

Nelson Malzoni ®