UMA VOZ SE OUVE

 

 

Eis-me, um homem sem qualidades

Querendo enobrecer todas as faculdades

Querendo descobrir todas as verdades

Querendo desviar-me de todas as falsidades

Querendo esquecer-me das tristes saudades

Querendo encontrar oportunidades

De ser feliz em meio a todos e desfrutar das amizades.

 

Eis-me. Um homem sem brilho

Querendo refletir no próximo a luz

Querendo testemunhar de Jesus

Querendo brilhar na escuridão

Querendo mudar o coração

Querendo expandir a razão

E aplicar a emoção.

 

Eis-me. Um homem obscuro

Querendo desvendar os mistérios

Querendo avistar as estrelas

Querendo viver o futuro

Querendo iluminar o escuro

Querendo pular o enorme muro

De ilusão.

 

Eis-me. Um homem sem nexo

Querendo anular o complexo

Querendo desmarcar este risco

Que regula todo o resto

Eis-me. Um vento inverso

Um grito interno pelo mundo externo

Um dilema eterno no coração em verso

 

Eis-me. Uma voz vã

Que velozmente voa pelo mar.

Estrela escondida da manhã.

Gota de chuva da tarde.

Lágrima de mágoa de cada noite.

 

Eis-me. Uma palavra sem voz.

Um verso que fala ao nada. Que fala ao longe.

Testemunha das ilhas inabitadas do coração do homem.

Testemunha do cotidiano rotineiro que aos sonhos destroem.

Voz de perto. Voz do deserto.

Voz do que resta. Voz da floresta.

Voz de lamúrias. Voz das ruas.

Voz de mágoa. Voz da água.

Voz da terra. Voz da guerra.

Voz da reza. Voz da seca.

 

Voz de quem erra, de quem peca.

Voz do contrito coração, que pede perdão.

Voz do nada, pedindo o muito.

Voz do pouco, pedindo o eterno.

Voz do filho, pedindo o auxílio paterno.

Voz de filho, pedindo o cuidado materno.

Voz do mortal, pedindo o lar eterno.

 

Eis-me, voz escrita.

Escrito falado.

Voz contrita,

Por lamentos derramados.

Voz de quem pede nas ruas,

Voz de quem jaz sobre a terra.

Voz do prisioneiro de guerra.

 

Voz que voa veloz, por vãos caminhos.

Voz que se afunda nos abismos marinhos.

Voz do cego a tatear na escuridão

Voz dirigida ao surdo.

Voz do mudo ao se descobrir sem voz.

 

Voz do que fala para si mesmo.

Grito que se ouve no deserto.

Fala da reflexão do coração em estado de emoção,

Sussurro dirigido ao longe

Grito ao que se encontra por perto.

 

Eis-me. Voz vazia;

Voz desconsiderada pela vã razão.

Voz alimentada pela ilusão.

Voz da ira da alegria

Voz da tristeza da felicidade.

Voz da alegria em lágrimas.

Voz da felicidade em agonia.

Voz que com ironia,

Fala a verdade!

 

Nelson Malzoni ®